Nguxi dos Santos:“Cinema nacional continua carente e precário. É preciso financiamento e formação”
Nguxi dos Santos, um dos grandes percursores do cinema e da televisão em Angola, fala das valências do seu projecto de criação daquele que será o primeiro museu de cinematografia e audiovisual de Angola, onde tenciona expor peças antigas dos primeiros materiais de fotografia, televisão e rádio, com o objectivo de “preservar a história do país” e compartilhá-la com a juventude e as futuras gerações
Está a desenvolver um projecto de transformação da sua própria residência num museu de cinema e audio- visual. Como surge a ideia?
Para ser honesto, a ideia no princípio não era propriamente fazer um museu como tal, mas ter um espaço onde pudesse expor o material, com a conservação devida, e que permitisse que as pessoas interessadas pudessem ter acesso e aprender um pouco. Mas devido a algumas situações, optei por fazer mesmo um museu e com isso poder garantir maior dignidade e conservação do material de modo a estarem expostos sem qualquer constrangimento. O país passou por vários momentos marcantes e delicados que fazem parte da sua história e que jamais podem ser esquecidos nem apagados, e estes momentos foram acompanhados pela rádio, pela televisão e pela fotografia. No entanto, estes materiais que foram usados nestes períodos cruciais da história do país não podem simplesmente ser ignorados e deixados ao cativeiro/armário. Então, eu tenho vários materiais da época de transição e do período de guerra, materiais estes que acho que a juventude que, por exemplo, está a se formar nas áreas de comunicação social ou telecomunicações, do audiovisual ou do cinema, precisa conhecer, ter o contacto com eles e compreender a importância que cada um teve no registo dos momentos que o país atravessou.
Com isso, pretende criar um espaço para que os jovens possam entrar em contacto com essa realidade?
É preciso que estes jovens tenham um local onde podem visitar estes materiais velhos e aprender um pouco sobre eles, suas utilidades, modos de funcionamento e quais eram as técnicas usadas no manuseio, porque isso vai ajudar a solidificar as bases de conhecimento histórico e prático destes jovens.
Pois, há muita juventude formada que não sabe a era do surgimento da televisão em Angola, não conhece quais foram as primeiras câmeras usadas no país nem tão pouco as técnicas de uso, mas são jovens formados, alguns até com mestrado e doutoramento e tudo. Estão “entupidos” de conhecimento sobre televisão do ocidente, dos Estados Unidos, mas não sabem nada sobre o seu país, sobre a história da televisão angolana. Portanto, esta é uma maneira também de contribuir para a preservação da nossa história, e também para a melhoria da qualidade de ensino no país.
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