
Cardeais se preparam para batalhar pela direção futura da Igreja Católica
A morte do Papa Francisco dá o tiro de largada no que muitos veem como uma batalha pela alma da Igreja, colocando aqueles que querem continuar suas reformas progressistas contra um grupo pequeno, mas poderoso, que quer revertê-las.
Francisco reformulou dramaticamente o grupo de prelados que em breve votarão em seu sucessor em frente ao afresco de Michelangelo, O Juízo Final, na Capela Sistina.
Somente cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto, e ele escolheu a maioria deles.
O primeiro pontífice do Sul Global decidiu rasgar o antigo livro de regras não escrito que previa que bispos de certas dioceses — a maioria delas na Itália, Europa e Estados Unidos — fossem automaticamente feitos cardeais.
Em vez disso, Francisco procurou internacionalizar o Colégio Cardinalício, dando barretes vermelhos a uma série de países que nunca haviam sido representados por um cardeal antes, como Tonga, Mianmar, Mongólia, República Centro-Africana e Haiti.
Suas reformas tornaram o organismo mais representativo da comunidade católica global, enquanto os cardeais que ele selecionou, em geral, compartilham sua visão da Igreja. Tudo isso torna mais provável que os cardeais escolham um papa que represente a continuidade com Francisco.
Mas os conclaves podem trazer surpresas e, apesar das reformas feitas por Francisco, há uma pequena, porém determinada, minoria insatisfeita com o papado mais recente, que buscará maneiras de mudar de rumo.
Parte da oposição é bem financiada e as manobras pré-conclave já se arrastam há vários anos. Esses cardeais estavam preocupados com a abertura de Francisco em dar a comunhão a casais divorciados e recasados, com sua acolhida a católicos LGBTQ+ e com suas fortes críticas ao que ele descreveu como católicos “atrasados” que querem levar a Igreja de volta a um caminho diferente.
Suas críticas à desigualdade econômica e seu foco nos direitos dos migrantes e na crise climática irritaram os católicos que queriam um papa que ditasse as leis sobre os ensinamentos morais.
Enquanto estava no hospital, o papa aprovou um processo de reforma de três anos, incluindo como dar papéis maiores às mulheres na Igreja Católica, como ordená-las como diaconisas, e maior inclusão de leigos na governança e na tomada de decisões.
As reformas foram examinadas por meio de uma estrutura chamada Sínodo dos Bispos, que tem sido o principal veículo pelo qual o papa implementou sua agenda pastoral durante seu pontificado. Nos últimos anos, ele tem buscado envolver católicos de todo o mundo no processo de renovação.
A grande questão é como o próximo papa dará continuidade a esse processo, que está previsto para durar até 2028.
O debate provavelmente se intensificará após o funeral do Papa Francisco no sábado, quando a atenção se voltará para o próximo conclave, cuja data de início não foi confirmada.
Um grupo que deve ser observado com atenção são os cardeais com mais de 80 anos que, embora não possam votar, podem desempenhar um papel importante nas reuniões pré-conclave vitais e nas discussões informais que acontecem nas trattorias romanas ou nos apartamentos dos cardeais.
Uma parte desses cardeais aposentados não foi nomeada por Francisco, e alguns se opuseram à direção que o primeiro papa latino-americano tentou levar a Igreja.
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